11 de novembro de 2010

Ainda dá tempo para reagir.

Mais uma história interessante nos é contada no site Espaço Vital sob o título “A Metamorfose do doutor Kafta”, escrita pelo advogado Rafael Berthold. Não buscamos saber se o relato é verdadeiro ou mera ficção, Servimo-nos dele apenas para demonstrar nossa inquietude com a decadência dos valores éticos e morais dentro da sociedade brasileira, que passa a confirmar a célebre frase de Rui Barbosa:

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
O retrato da nossa atual sociedade também é descrito pelo poeta Álvaro Alves de Faria (1), que em seu blog escreveu um post sob o título “O retrato do Brasil numa frase”, referindo-se assim a Rui Barbosa:
“Se esse homem vivesse hoje tenho certeza que ele não escreveria seus textos famosos sobre a ética, a honra, a moral, o homem. Não. Ele se mataria antes e a frase não existiria para explicar tão bem este país de hoje, este país de agora, este país sujo, este país canalha, este país do faz de conta, de gente que mente descaradamente em discursos cada vez mais vergonhosos. Basta ter um pouco de discernimento”.

O brasileiro precisa reagir como também deve fazê-lo os demais cidadãos do mundo. O homem não será feliz se sua existência for marcada por uma postura extremamente materialista, desprovida do mínimo ético e moral.

E hora de reagir e de não aceitar como verdadeira a frase de Raul Seixas:

“Do materialismo ao espiritualismo é uma simples questão de esperar esgotarem-se os limites do primeiro”.
                      A metamorfose do doutor Kafka

Por Rafael Berthold, advogado (OAB-RS nº 62.120)

Numa certa manhã, o famoso advogado, Dr. Kafka, ao verificar o correio, percebeu que havia sido multado por não usar o cinto de segurança. Aposentado já há algum tempo, resolveu telefonar para um grande amigo seu que ainda militava, o Dr. Ladino Tramposo, em busca de orientações:

– Kaká – disse Tramposo –, deixa isso comigo. Eu consigo um comprovante de que, na hora da multa, você estava em algum estacionamento ou em outro município. É moleza!...

- Nada disso. Sem provas falsas! Eu sou cidadão honesto; realmente estive naquele local, àquela hora, só que estava de cinto, como sempre. Deve haver algum procedimento idôneo para ocasiões em que falham os agentes de trânsito, não?

– Existe, sim: ir no banco e pagar a multa!... - respondeu, irônico, o Dr. Ladino.

O velho Dr. Kafka não aceitou o parecer e a ´solução´ dados pelo amigo e foi ter com a autoridade de trânsito, pessoalmente. Ao constatar a pertinência das informações prestadas pelo colega Tramposo, o Dr. Kafka ficou possesso:

– Mas, se me lembro bem, a Constituição me dá direito à mais ampla defesa, mesmo em processo administrativo: art. 5º, inciso LV!

– Mas nós estamos lhe garantindo a ampla defesa. Ou o senhor não recebeu uma notificação para apresentar defesa prévia? Agora, como o senhor vai provar que estava usando cinto é problema seu. Ah, e se não vier tal prova, nem perca tempo apresentando defesa, nem buscando o Judiciário - disse a autoridade, sem meias palavras.

– Mas isso é totalitarismo! É uma afronta ao Estado Democrático de Direito!

– Olha, perdi a paciência! – exclamou a autoridade, de cenho franzido, e logo ordenando complementarmente que "é melhor o senhor ir saindo".

Dr. Kafka ainda não se refizera da afronta, quando escutou a autoridade em novo desvario:

- E só pra ver quem é que manda, vai levar também uma multa por dirigir com braço pra fora, em desrespeito ao artigo 252, do Código de Trânsito.

– Ultraje! O senhor não tem o poder e nem a coragem pra isso! – contestou o velho.

– Ah... não posso? Pois o senhor acabou de perder sua carteira por um ano, por dirigir embriagado - artigo 165 do CTB!

– Ah, e que prova o senhor tem de que ingeri álcool?

– Mas eu não preciso fazer prova nenhuma. O senhor é que tem que provar que não se recusou a fazer o teste do bafômetro.

E assim foi que, sem nenhuma culpa, o Dr. Kafka perdeu a carteira por um ano e teve que fazer reciclagem. Sim, ele foi notificado para apresentar defesa de todas as autuações, mas não conseguiu provar o que alegava.

Quase um ano após estes fatos, ele caminhava pela rua quando encontrou aquela mesma autoridade que o destratara. Achando que não tinha mais o que perder, decidiu ´desafiar´ o homem, uma vez mais:

– Como o senhor vai me multar agora que não dirijo mais?

Duas semanas depois, o Dr. Kafka recebeu uma nova notificação de infração de trânsito, com base no art. 254, V, do CTB, por caminhar fora da faixa de segurança. Aparentando haver passado por uma “metamorfose”, o até então cidadão exemplar, sem um segundo de hesitação, pegou o telefone e discou:

– Alô! Tramposo? Quanto você cobra a consulta, mesmo?


Apesar de se constituir marca mais visível na sociedade brasileira, a falência dos princípios éticos e morais decorre de um mal que assola a atual civilização que relega os atributos das coisas espirituais na ânsia de cada dia mais valorizar a posse de bens materiais. Nesse contexto as ações de marketing são cada vez mais direcionadas para levar o homem a ser escravo de um consumo desmedido e a perder o seu senso crítico.

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Já chegamos ao fundo do poço?

        A crise moral, política e financeira que se abateu sobre o nosso país não nos dá a certeza de que já chegamos ao fundo do poço....