Dr. Patricia Bianchi
Reflexões
e críticas ao atual sistema educacional são contumazes em jornais, blogs e
revistas brasileiros. A educação vem sofrendo transformações significativas nas
últimas décadas, e é tema cuja relevância ultrapassa os debates acadêmicos.
O
assunto apresenta várias facetas, e aqui se pretende visualizar o tema, não sob
a ótica das instituições, sejam elas públicas ou privadas, mas sob a
perspectiva daqueles que são os destinatários da educação, os protagonistas
nesse processo, ou seja: o aluno e sua família.
O
discente, a despeito do notável desenvolvimento da democratização ao acesso à
educação, ainda apresenta um perfil deficitário no que concerne ao exercício da
cidadania. A carência não reside apenas na falta de cobranças de qualidade no
ensino da instituição que o acolhe, ou do docente que o instrui nesse processo,
mas, sobretudo na análise crítica da sua própria postura.
Entende-se,
nesse caso, que não se pode apenas esperar, de forma passiva, que as benesses
do sistema de ensino nos envolvam, nos emancipem ou nos formem. Talvez uma
saída para o sério problema da educação no Brasil deva vir de uma reflexão de
cada indivíduo, algo particular; além de um processo de redistribuição das responsabilidades.
Aqueles
que adotam posturas descomprometidas com a qualidade do ensino compõem, progressivamente,
uma massa de cidadãos debilitados no âmbito de sua formação conceitual, além de
cultivarem atrozes prejuízos de ordem ética.
Saudosistas poderiam lembrar um tipo de educação
que pode ser traduzida naquela que acompanha o aluno onde quer que ele esteja;
aquela que se funde ao indivíduo, e integra, inclusive, o caráter e a alma do
ser humano. Aquela que promove o fascínio pelos números, letras e fatos, que
nos incita ao pensamento dialógico ou reflexivo, ou a que apenas aprimora o
conhecimento.
Realistas, todavia, entendem que nosso atual processo
educacional é marcado por vezes, e não poucas, pela precariedade, em razão de
um sistema que perdeu o seu foco: o ensino-aprendizagem. Nesse contexto, encontram-se
discentes cujo objetivo é chegar, ansiosamente, ao final do curso, sem ter, de
fato, usufruído das benesses que o sistema poderia oferecer.
Contudo,
há que se conferir relevo ao fato de que determinados alunos, não obstante as
dificuldades das mais variadas ordens, ainda ditam a qualidade do ensino, independentemente
da instituição que freqüentem. Esses, comprometidos consigo mesmos e com uma ética
que lhes acompanha, reinventam seu microssistema, sobrevivendo e resistindo a
uma inegável tendência que marca nossas instituições.
Daí
a responsabilidade da família, base do
processo educacional, em evidenciar aos seus a importância do verdadeiro
aprendizado, e a relevância de se seguir regras
para que o processo se concretize de forma organizada e pretensamente justa.
Essa
tarefa apresenta um grau de dificuldade peculiar no Brasil, já que somos instigados
cotidianamente a darmos um “jeitinho” em tudo, e de burlarmos o sistema, seja
qual for a forma que ele se apresente. E isso parece fazer sentido num país
marcado pelo descaso e desrespeito ao outro, sobretudo nos âmbitos social e
político, além da dificuldade no exercício de direitos elementares. Um país
carente do que normalmente se chama de “heróis”, e eu prefiro dizer “cidadãos comuns”,
que, de fato, realizem seus
princípios éticos.
Para
uma eventual alteração dessa realidade, propõe-se, por fim, que as famílias assumam o seu papel, num
exercício de amor e de cuidado àqueles que as pertencem, já que imprimimos influências
diretas nas gerações futuras, tendo-se o dever - e sobretudo a responsabilidade - de sermos bons modelos
para os que, desde muito cedo, nos têm como referência.
Autora
do texto:
Patricia Bianchi, Doutora
em Direito, Estado e Sociedade,
Mestre em Relações Internacionais e Professora da Unisal (Centro Universitário Salesiano
de São Paulo) em Lorena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos seu comentário. Críticas serão sempre aceitas, desde que observado os padrões da ética e o correto uso da nossa língua portuguesa.