O artigo abaixo reproduzido, de autoria de Gabriel Chalita, é um alerta aos nossos governantes e à nossa sociedade, de que é preciso fazer alguma coisa contra o aumento progressivo de usuários de crack em nosso país.
Por essa razão, o apelo de Chalita é publicado em nosso blog.
Autor(a):
Gabriel Chalita, Professor, doutor em filosofia do direito e em comunicação e semiótica, é deputado federal (PSB-SP). Foi secretário de Estado da Educação de São Paulo (2003-2006).
Fonte:
Folha de São Paulo, 18 de março de 2011
Por essa razão, o apelo de Chalita é publicado em nosso blog.
Caminhar por certas ruas de São Paulo é doloroso. Vemos jovens perambulando como zumbis pela cracolândia, com suas vidas desperdiçadas. Muitos nem sequer viverão para transmitir a nenhuma criatura o "legado de sua miséria", como afirmava Brás Cubas.
Esse cenário desolador não se resume à capital paulista. Um estudo do psiquiatra Pablo Roig, especialista no tratamento de viciados em crack, revela que há 1,2 milhão de usuários da droga no Brasil. O trabalho mostra que, em média, o consumo começa aos 13 anos.
As sombrias constatações são o resultado de escolhas erradas feitas no passado. O problema não foi diagnosticado a tempo de evitar que ele assumisse tamanha dimensão. Para reverter essa realidade, temos de agir imediatamente.
A presidente Dilma Rousseff, ainda em campanha, anunciou que o combate ao crack seria uma das prioridades de seu governo. No último dia 21, cumprindo a promessa, afirmou que serão inaugurados 49 Centros de Referência em Crack e outras Drogas, os quais formarão 15 mil profissionais de saúde para o atendimento aos usuários.
O consumo de crack se expande em progressão geométrica. Por ser muito barato, é facilmente disseminado entre a população de baixa renda. Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul indica que 72,5% da população em situação de rua de Porto Alegre usa a droga.
Mas o crack também ganha adeptos em outros extratos sociais. Uma pesquisa feita em 2009 pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo indicou um crescimento anual de quase 140% no consumo entre pessoas com renda superior a 20 salários mínimos.
Os economicamente desfavorecidos embarcam nessa viagem por não terem condições sociais, materiais e psicológicas de enfrentar as adversidades da vida.
Os demais veem nas drogas uma possibilidade de fugir dos problemas inerentes à condição humana. Buscam o prazer aqui e agora, ilimitadamente. Por caminhos diferentes, uns e outros entram no submundo da criminalidade, destruindo vidas, sonhos e esperanças.
Aterrorizar os jovens com a desculpa de informá-los sobre os perigos das drogas não os afasta delas. Estudos mostram que mais de 90% dos usuários adolescentes conhecem os efeitos e os riscos.
Para prevenir, é fundamental o acesso à educação plena, aos esportes e ao lazer, além de mais e melhores condições de trabalho no futuro. Cabe aos pais dar aos jovens a oportunidade de desenvolver a autoestima, de construir projetos de vida e de estabelecer a percepção de que cada um é responsável pelas suas escolhas e, portanto, pelo próprio destino.
Os jovens necessitam de um tema para viver. Os governos e a sociedade têm a imensa tarefa de tratar aqueles que já estão sob o domínio do vício, reintegrando-os ao convívio social.
Prevenir o uso de drogas significa educar e conscientizar. Para cuidar dos jovens viciados, que se tornam verdadeiros farrapos humanos, temos de aliar políticas públicas efetivas a cuidados especiais.
Fazê-los encontrar um sentido para suas vidas vai além da ação pública; é um ato de amor ao próximo. E isso requer "engenho e arte", como dizia Camões. Ou, nas palavras do psicanalista Erich Fromm, "o amor é uma arte que requer conhecimento e esforço". Esse é o nosso desafio!
Autor(a):
Gabriel Chalita, Professor, doutor em filosofia do direito e em comunicação e semiótica, é deputado federal (PSB-SP). Foi secretário de Estado da Educação de São Paulo (2003-2006).
Fonte:
Folha de São Paulo, 18 de março de 2011
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