É assunto na mídia a má classificação das universidades brasileiras no ranking mundial das instituições de ensino superior. Os índices são contestados, mas é inegável: estamos mal.
Como professor de Direito há mais de 20 anos, no tocante ao ensino de graduação em Ciência Jurídica, posso apresentar alguns motivos desse fiasco.
Por óbvio, o primeiro deles refere-se ao investimento. Nas últimas décadas, o ensino universitário brasileiro privatizou-se. Assim, as universidades públicas hoje, minoria não recebem do governo as verbas necessárias para oferecer aos alunos ensino de qualidade. E as instituições privadas, por priorizarem o lucro, deixam a qualidade em segundo plano.
Mas o problema não é só dinheiro.
A questão fulcral é pedagógica ou ideológica. Nossos cursos de Direito restringem-se, com raríssimas exceções, ao ensino. Não praticam extensão e, nem mesmo, pesquisa. E aqui já ficamos para trás, pois é a pesquisa que cria o novo, qualifica a universidade e faz a sociedade evoluir. Não fosse isso, o ensino praticado seria ainda pior.
Os professores, em quase sua totalidade, restringem-se a uma didática descritiva, dogmática, de análise dos textos legais e, para piorar, com base em manuais. Os manuais de Direito no Brasil, excetuando uma ou outra rara obra, são de péssima qualidade. Seus conteúdos são triviais, afastados da realidade e escritos de uma maneira que parecem considerar os alunos incapacitados mentalmente.
Como a demanda do corpo discente na atualidade é direcionada aos concursos públicos, e estes cobram, nas provas, conteúdos da mesma espécie e centrados na memorização, o resultado é uma espécie de acordo pela mediocridade.
Com isso, o País perde, pois nossa juventude, capaz e inteligente, ao contrário de usar seu potencial intelectual para produzir o novo, desenvolver a ciência e criar rumos ao conhecimento jurídico, resta obliterada, cingindo-se a decorar manuais ridículos, preparando-se para um concurso qualquer. Um grande potencial intelectual, da melhor espécie, está sendo simplesmente desperdiçado. Realmente, não é sem motivo que as universidade brasileiras não se incluem entre as melhores do mundo.
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