Voltamos a abordar em nosso blog a remuneração do professor, considerado o aspecto essencial para se garantir a qualidade da educação em muitos países.
Para tanto, recomendamos que os nossos leitores leiam a reportagem publicada nesta segunda-feira (18/04) na Folha de São Paulo, que traz como manchete “Em países onde a educação vai bem, a carreira do professor é valorizada”.
Entre os aspectos que são focalizados, destaca-se o sucesso alcançado por Cingapura, segundo país colocado, em matemática, no ranking do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), no qual os professores começam a lecionar ganhando o mesmo salário pago que os engenheiros, ou seja US$2.500 por mês. Enquanto isso, no Brasil, o professor inicia ganhando 40% menos de qualquer outro profissional com idêntica formação.
Na reportagem vamos encontrar que “segundo os representantes dos governos e associações profissionais de ensino nos países de desempenho mais alto do Pisa, a profissão de professor atrai os mais bem-sucedidos alunos formados em cada geração, aplicando os critérios mais exigentes para assegurar os recrutas mais fortes para seus programas de treinamento docente. Por exemplo, na Finlândia, apenas 1 em cada 10 candidatos entra na profissão depois de cumprir um processo rigoroso de seleção em múltipla etapas que visa recrutar apenas os mais bem qualificados. A seleção dos professores não se baseia apenas na sua competência cognitiva, mas dá igual importância a seu potencial de liderança, seus valores éticos, disposição para ensinar e sua habilidade e capacidade de comunicar e de se relacionar bem com outras pessoas”.
Na contramão dessa direção, no Brasil é cada vez menor o interesse dos jovens para a carreira docente, sendo necessário que o governo faça até campanha publicitária para atrair estudantes para os cursos de formação de professores.
Voltando ao exemplo que nos é dado por Cingapura, a reportagem cita que os alunos que se tornarão professores vêm dos 30% mais proficientes do ensino médio. A garantia de que receberão salários competitivos assegura que esses egressos mais competentes não migrem para outras profissões igualmente bem remuneradas. Além disso, assinala que “existem um elenco de oportunidades de careira contínuas e de largo horizonte para professores dentro das salas de aula, como pesquisadores nas diversas áreas de material curricular e na gerência e administração de docentes. A avaliação e a recompensa dos professores apóiam as metas de atrair para a profissão os melhores, prepará-los com o melhor treinamento e experiência, oferecendo apoio para aprimorar o ensino e incentivar seu melhor desempenho”.
A experiência que está sendo adotada no Estado de São Paulo, de remunerar o professor com base em recompensas pelo seu bom desempenho, hoje muito criticada inclusive por educadores alinhados com os partidos que dão sustentação ao atual governo federal, é feita em Cingapura. De 10% a 30% da recompensa recebida pelo docente é baseada no seu desempenho.
Para concluir, sugerimos aos nossos leitores a leitura da entrevista feita com o Professor Lee Sing Kong, Diretor do Instituto Nacional de Educação – responsável pela formação de docentes em Cingapura – que esteve recentemente no Brasil participando de um evento na área da educação.
O instituto foi importante para a última reforma educacional do país, desenvolvida na década de 90, a 'Thinking Schools Learning Nation' [Pensando escolas, nação aprendendo, em tradução livre?O NIE desempenha um papel fundamental em todas as iniciativas de reforma na área, já que os professores devem entender o que elas significam e saber que são instrumento para que tenham impacto. Com o lançamento da 'Thinking', em 1997, o papel dos professores mudou: de apenas transmitir conteúdo para contribuir para o desenvolvimento integral de todos os alunos, ajudando-os a descobrir seus talentos. Tomemos a ciência como exemplo. Se os professores fazem perguntas para criar uma curiosidade entre os estudantes, os alunos podem ser encorajados a pensar e a descobrir. Com a mudança do papel dos professores, a nossa forma de treinar também deve evoluir.Como o instituto cuida da formação de professores em Cingapura?O recrutamento de candidatos para o ensino público é realizado pelo Ministério da Educação (MOE), com ajuda do NIE. Logo, todos os estudantes-professores são na verdade funcionários do MOE. O ministério paga os custos da formação, e os professores alunos também recebem um salário enquanto estudam. Nosso trabalho principal é treinar professores iniciantes, mas também oferecemos pós-graduação para professores já em serviço. Em média, o NIE forma cerca de 2.000 professores iniciantes anualmente e aproximadamente 700 mestres.Como os professores podem progredir na carreira?Os professores em Cingapura são avaliados anualmente. Os critérios estão claramente expostos no 'Enhanced Performance Management System' [Sistema de Gestão de Desempenho Aprimorado]. Diretores, vice-diretores e chefes de departamentos usam esses critérios para avaliar os professores, face a face. O processo de avaliação também ajuda os professores a orientar seus caminhos de desenvolvimento profissional. Professores com um bom desempenho são promovidos.O NIE também desenvolve novas práticas de ensino que são adotadas nas escolas. Como isso funciona?Sendo o instituto nacional de formação de professores, o NIE realiza extensa pesquisa com o objetivo de adotar os resultados nas práticas de sala de aula. Trabalhamos em estreita colaboração com os professores no processo de condução dessas pesquisas e, se forem implementadas, oferecemos treinamento profissional sobre como adotar tais práticas. A capacidade dos professores precisa ser construída antes que qualquer mudança nas práticas de sala de aula possa ser introduzida.Um exemplo simples é o uso de dispositivos móveis para a aprendizagem contínua. Palmtops ou celulares têm sido adotados como ferramentas que permitam aos alunos aprender dentro e fora da sala. Os professores são preparados para facilitar essa aprendizagem. Então, isso é adotado em algumas escolas e depois ampliado para outras.As escolas de Cingapura têm autonomia e têm de definir algumas metas de trabalho, cenário que lembra o mundo dos negócios. Isso funciona em um sistema educacional?O Ministério da Educação tem uma estrutura chamada de 'Modelo de Escola de Excelência', que orienta as escolas sobre como planejar suas metas e estratégias de desenvolvimento. Cada escola é diferente da outra e cada escola pode definir seus próprios objetivos e estratégias. Isso oferece a autonomia de traçar seu ritmo de desenvolvimento. Esse modelo também orienta as escolas em como avaliar seu progresso e suas realizações. A cada cinco anos aproximadamente, um grupo de avaliação externa vai visitar a escola.O senhor acredita que a experiência de Cingapura possa ser usada aqui?Uma diferença fundamental é que o sistema de ensino no Brasil é muito maior que o de Cingapura. Um país não pode transportar totalmente o sistema de outro país, já que o contexto, a cultura e o ethos nacional podem ser diferentes. Mas podemos sempre aprender uns com os outros. O sistema de Cingapura tem evoluído assim.
Nosso comentário final:
O salário mínimo do professor brasileiro deve ser a partir de 2011 de R$ 1.187,08. O valor é 15,85% maior do que o piso salarial de 2010, que estava em R$ 1.024,67. Em nota oficial, o Ministério da Educação explicou que têm direito a essa remuneração mínima professores de nível médio que trabalhem 40 horas semanais. Não há piso definido para quem trabalha apenas 20 horas semanais. A Lei nº 11.738, que regulamenta a remuneração mínima, afirma que os trabalhadores em jornadas diferentes das 40h semanais devem ganhar salários "proporcionais" ao piso.
Dessa forma, verifica-se que hoje o salário mínimo de um professor no Brasil não chega a US$1.000.
É importante citar que nos últimos 12 anos o salário mínimo evoluiu 392%, enquanto que o salário do professor evoluiu apenas 149%.
A má qualidade do ensino brasileiro, que a cada avaliação do PISA fica demonstrada, tem uma única explicação: a carreira docente não atrai os melhores alunos que concluem o ensino médio em razão do baixo salário pago ao professor no Brasil.
Será que ainda dá tempo de recuperar tanto tempo perdido?
Fonte:
Recebi o seguinte comentário: conversando outro dia com uma professora aposentada na mesma época que eu chegamos a conclusão que esta luta por melhores salários e inglória.Os governantes não se interessam pelo assunto como se educar fosse um problema menor .O que ja esta acontecendo e o desinteresse da nova geração de escolherem o magistério como opção profissional. Não está muito longe de presenciarmos escolas sem professores para ensinar. Terezinha Ap. F. Honório
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