10 de agosto de 2011

Crítica injusta a um Delegado “poeta”


Google Images - Meramente Ilustrativa


Fiquei intrigado com uma notícia recentemente divulgada. Ela traz uma pesada e gratuíta crítica feita por um professor da Universidade de São Paulo a um Delegado de Polícia de Brasília, apenas pelo fato de ele ter feito um relatório utilizando não a forma convencional e sim por meio de versos.


Como sempre abominei formas pré-estabelecidas na elaboração de peças jurídicas, entendo que da mesma forma, os Delegados de Polícia não são obrigados a segui-las na elaboração de seus trabalhos.


Acho que a crítica foi injusta e não tem sentido. Consultei um amigo, Delegado de Polícia, e Professor Universitário em Presidente Prudente, Dr. Wagner Negré, e ele demonstra que não estou errado.


Vamos aos comentários do Professor Negré:


“Dei uma olhada no fato e, me causa espanto tanta reação. Provavelmente porque alguém tenha dado divulgação. Em relação ao papel da corregedoria possivelmente não é pelo fato de ter sido elaborado na forma de poesia. É preciso atentar que é bem provável que tenha determinado a "refeitura" do relatório porque o ínclito Delegado, talvez, tenha se esquecido de citar elementos relevantes como dia, local e data dos fatos, o delito antecedente, provas colhidas, etc. dados essenciais e necessários ao relatório. Portanto, nada mais natural que tenha que ser refeito. Também acredito que o diligente Delegado tenha tentado atenuar um pouco o rigorismo metódico da feitura de relatórios e apresentar algo mais poético, romântico para leitura. É claro que não se trata de um poeta, de um escritor. Provavelmente (com certeza) se eu tentasse não teria feito melhor, afinal, não tenho formação para poeta. Mas o que valeu foi a intenção de que, caso alguém fosse ler o relatório, vislumbra-se algo mais palatável, distante de um anúncio de programa televisivo ou de jornal. Só mais uma observação. O profícuo professor de letras que arrematou seu comentário citando a literatura de cordel, etc. etc., deveria, no mínimo, agradecer ao Delegado que, atuando diuturnamente em uma profissão tão dura, com realidades tão doídas, buscou apresentar a conclusão de uma investigação de forma tão graciosa (não obstante não ser poeta).


Vejam, agora, um resumo da notícia:


Para especialista, poesia de delegado é fraca e sem ritmo


"Até como poesia popular é muito fraco, a única coisa que tem de poética aqui é a rima", disse Antonio Carlos Olivieri, formado em letras pela USP (Universidade de São Paulo) e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação, sobre o relatório do delegado de Brasília Reinaldo Lobo feito em forma de poesia.


Para Olivieri, além de não seguir nenhuma norma de versificação, a poesia não tem ritmo, nem musicalidade. Ele destaca que a maioria das rimas são todas da mesma classe gramatical: "É muito fácil rimar verbos terminados em -ar. Já a palavra tranquilo ficou sem rima, porque é mais difícil".


Nem a comparação com a literatura de cordel ajudaria na classificação da poesia do delegado. "Na literatura de cordel existe um ritmo que aqui [na poesia] não existe. Em geral, o cordel tem versos em sete sílabas, chamado de redondilha maior. Na poesia do delegado cada frase tem uma métrica própria. Ele não observa o rigor formal que a poesia tradicional tem", afirmou Olivieri.


Notas finais deste blog:

Encerro com dois recados:

Primeiro ao Professor/crítico:

Horácio, poeta e filósofo romano, certa vez, escreveu: “Aos poetas e aos pintores sempre foi concedida a liberdade de ousar qualquer coisa”.


Segundo ao Dr. Delegado:

"Não devemos dar demasiada atenção ao que os críticos dizem. Nunca foi erguida uma estátua em honra de um crítico", Sibelius.



Fontes:

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