28 de setembro de 2010

O Brasil está nu

A taxa recorde de popularidade do Presidente Lula (78,4%) e a provável eleição de Dilma Rousseff já no primeiro turno nos remetem a recordar da história contada pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, na sua consagrada obra “A Nova Roupa do Imperador”.

Conta o autor que existiu um Rei que quis fazer uma roupa, mas exigia que fosse algo extraordinário. Dois alfaiates forasteiros se aproveitaram da situação e fingiram ter feito uma roupa, dizendo que se tratava de um tecido mágico e que “só as pessoas inteligentes poderiam ver.” Quando o alfaiate de sua confiança fez a “roupa mágica”, todos aqueles assessores foram convocados para ver o rei vestido. Só que eles já sabiam que só os inteligentes veriam aquele tecido. Quando o Rei apareceu, todos ficaram extasiados e bateram palmas. --Que roupa bonita! –diziam os assessores, para que o Rei ficasse contente. Num desfile pelas ruas, houve quem dissesse estar vendo a roupa, outros assumiram a ignorância e se disseram burros por não estarem vendo a roupa, e acreditaram tratar-se de um tecido mágico. Um garoto que não sabia do que se tratava, gritou no meio da multidão: - O Rei está nu! Foi quando a população acordou e viu que realmente o Rei estava nu e os assessores se esconderam deixando o enganado Rei ser vaiado pelas ruas.

Assim como na história que nos é contada por Andersem, o povo brasileiro acredita que o nosso país está também vestido com a melhor “roupa política”, quando na verdade ele está nu, ou seja, despido do mínimo necessário que poderia ter pela sua altíssima contribuição tributária que o cidadão brasileiro lhe dá.

Segundo Leoncio Arruda (1) a carga tributária brasileira já chegou a atingir 40,28% do PIB, o que transformados em dias representa 147 sete dias do ano, portanto, é como se estivéssemos apenas trabalhando para pagar impostos. Isto também poderia ser visto em relação à semana, numa semana de seis dias trabalhados, praticamente 2,5 dias seriam destinados ao governo, ou seja de segunda até aproximadamente a metade da quarta feira se estaria trabalhando para recolher os seus impostos. A conta também poder ser feita em dias no caso supondo trabalhar-se 7h e vinte minutos por dia, praticamente três horas por dia se trabalha para sustentar a carga tributária paga ao governo.

Atualmente no México os cidadãos trabalham 91 dias e na Argentina 97 dias para dar conta da sua carga tributária, algo bem menor que os 147 dias por aqui trabalhados, ou seja, um mexicano trabalha 58 dias a menos que um brasileiro, e um argentino 50 dias a menos por ano para pagar seus impostos, o que significa que têm a sua disposição mais recursos para sua sustentação.

A comparação também pode ser feita com a maior economia do mundo, a norte americana,.Por lá se trabalha em torno de 102 dias, ou seja, aproximadamente 3,5 meses, ainda assim 45 dias a menos que no Brasil, portanto, por aqui quase 1,5 mês a mais.

O Brasil é o país com a carga tributária mais elevada entre os países em desenvolvimento da América do Sul e dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). Se a gestão de recursos públicos fosse mais eficiente, não precisaríamos de uma carga tão grande. Fato é que o Brasil arrecada como um País de primeiro mundo, mas retorna para a população como um país de terceiro mundo.

Vejamos.

Ao assumir o governo em 2003, o nosso presidente Lula afirmou que acabava de receber uma herança maldita de seus antecessores. Uma dívida pública de R$892,94 bilhões. A verdade é que ele deixará para quem sucedê-lo, uma dívida de R$1,73 trilhões. Ou seja, quase o dobro do que recebeu.

O aparelhamento do Estado, ou seja, o número de servidores contratados passou de 63 mil quando Lula assumiu a Presidência para 549 mil em 2009. Não temos os dados de 2010, mas certamente haverá um aumento significativo.

A par disso, o endividamento pessoal de cada brasileiro bateu recorde. Márcia De Chiara divulgou em 15/2/2010, no jornal O Estado de São Paulo, que “entre cartões de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, empréstimos para compra de veículos, imóveis - incluindo os recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) -, a dívida das famílias atingiu no fim do ano passado R$ 555 bilhões. O valor é quase 40% da renda anual da população, que engloba a massa nacional de rendimentos do trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social”. Quando Lula assumiu em 2003, eram precisos dois meses de salários para que o brasileiro pagasse sua dívida. Hoje, ele precisa quase cinco meses para quitá-la. Mais que dobrou.

O famoso PAC – Plano de Aceleração do Crescimento -, cuja mãe é a candidata Dilma Rousseff, segundo levantamento feito possui metade das suas obras ainda no papel. E o que é pior, o Nordeste brasileiro é a região em que menos se realizou obras.

A imprensa internacional destaca que o Brasil é um país que tem tudo para alcançar um grande desenvolvimento. Todavia, problemas como o trânsito, as favelas, a precariedade dos aeroportos e estradas, e a deficiência no tratamento de água e esgoto estão atrapalhando o seu futuro brilhante. Tal afirmação consta de uma série de reportagens produzidas para um caderno especial sobre a infraestrutura nacional, publicado pelo jornal britânico Financial Times.

Comparado a outros vinte países, Brasil ocupa a 17ª posição no quesito qualidade geral da infraestrutura, o que o coloca como um dos piores do mundo. Tais informações fazem parte de um estudo da LCA Consultores, cuja fonte foi o relatório de competitividade 2009/2010 do Fórum Econômico Mundial, em Genebra, na Suíça. A avaliação é feita por empresários e especialistas de cada nação. No Brasil, 181 questionários foram respondidos. A má qualidade de estradas, portos, ferrovias e aeroportos brasileiros não chegam a ser novidade. Mas faltava uma comparação internacional que desse uma noção mais clara de como o país está atrasado, afirma a reportagem da Veja Economia, de 8 de agosto de 2010.

Na área educacional também não se verificou qualquer resultado significativo. O IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, de 2009 demonstrou que a situação das escolas brasileiras é péssima. Apesar de muitos municípios e escolas terem recebido do Ministério da Educação prioridade em investimentos e ações, essa ajuda extra em nada ajudou, pelo contrário, os índices pioraram. Se não há investimentos e ações para que se consiga uma melhora no ensino básico, o resto do sistema fica prejudicado e nem precisa ser analisado. Em razão disso, o governo se vê obrigado a lançar de estratégias para permitir a inclusão de jovens no ensino superior: bolsas de estudos, cotas, são algumas delas, mas que na verdade são medidas paliativas que devem ser substituídas por ações de melhoria da qualidade.

Nas avaliações internacionais, o estudante brasileiro é considerado um analfabeto funcional: sabe ler as palavras, mas não consegue interpretar um texto.

Da mesma forma a criminalidade aumentou significativamente em nosso país. Os dados do Mapa da Violência 2010 (nota 1), divulgado nesta terça-feira (30/03/10), mostram que, de 2002 a 2007, o Brasil registrou um crescimento espetacular no número de assassinatos em quase todo o País. Para o diretor executivo do INSTITUTO SOU INCAPAZ, o espetáculo do crescimento da criminalidade na era LULA é fruto da vasta incompetência do Governo Federal: “Esse é um fator que demanda bastante atenção, porque não só é grave a falta de competência desse governo, mas também ajuda a evidenciar a cara-de-pau dos aloprados do PT. A população nordestina deve agradecer ao poder executivo federal pelo aumento de assassinatos na era LULA”, afirma.

O consumo de drogas também aumentou em nosso país. Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas da UNODC (agência da ONU para drogas e crime), o Brasil é o maior mercado consumidor de cocaína na América do Sul. O citado relatório mostra que a produção e o consumo das principais drogas estão em queda em todo mundo, mas em crescimento em certos países dentre os quais desponta o nosso Brasil.

Não bastasse tudo isso, o aumento dos casos de corrupção do país teve um salto alarmante.

Mas se todos esses dados estão absolutamente comprovados, resta-nos indagar de como é constituído o “tecido mágico” que veste 80% da população brasileira?

Em primeiríssimo lugar está o fato de que parte da mídia que não se deixou manipular pelas altas verbas publicitárias do Estado, e que por isso veiculou tudo o que quis, cometeu um grande erro não em divulgar os erros de natureza política do nosso presidente, mas sim ao reforçar a sua imagem de homem simples e odiado pelos ricos. Tal fato é bem retratado por Luís Bustamante, no seu blog PáGINA CULTURAL, quando ele afirma que tais críticas, de fundo demofóbico, contribuíram muito para aumentar a popularidade de Lula. E o fato que Bustamante descreve em seu blog é bastante elucidativo: “Uma das fotos de Lula que, para mim, terá maior força simbólica, no futuro, foi feita por um paparazzi na Praia de Inena, Bahia, onde o presidente passou o último reveillon com a família. Nela, Lula aparece ao lado de Mariza, de chinelo, bermuda e camiseta cavada, carregando uma caixa de isopor na cabeça, certamente cheia de latinhas de cerveja. A foto foi reproduzida pelos jornais e revistas que citei anteriormente, para escárnio, acompanhada de comentários sobre a breguice farofeira e o suposto destempero alcoólico do presidente, na ingênua suposição de que, assim, contribuiriam para o seu desgaste. Contudo, o efeito sobre a popularidade de Lula foi o oposto: todos os que fazem churrasco no final de semana, acompanhados de suas caixas de isopor, sentiram-se confortados ao ver que ‘um de nós’ está lá, na presidência da República”.

Além disso, inegável foi e é o efeito da bolsa família, auxílio gás, bolsa alimentação, sistemas de cotas e outras tantas benesses que são distribuídas para uma grande parcela da população brasileira, como também a possibilidade de comprar o tão sonhado carro ou um eletrodoméstico em 60 ou 80 parcelas, mesmo que seu rendimento mensal não suporte tais dispêndios e os levem a um endividamento pessoal impagável.

As eleições de outubro próximo é a oportunidade que é dada a cada um dos brasileiros para decidir se deseja que o nosso país continue com a roupa confeccionada com o “tecido mágico”, que lhe dá como afirma Juana Inês de Lá Cruz “A mais brilhante das aparências, para cobrir as mais vulgares realidades”, ou compramos uma nova dentre as opções que nos são ofertadas.

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Notas:

1. http://www.segs.com.br/index.php,

2. http://paginacultural.com.br/artigos/a-popularidade-de-lula/

3 - http://www.institutosangari.org.br/mapadaviolencia/


4 - http://www.vanguardapopular.com.br/portal/noticias/141-3.













 





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