12 de outubro de 2010

Quem não cola não sai da escola

A nossa longa experiência como gestor educacional nos proporcionou vivenciar histórias inusitadas que passaremos a contar neste blog. A primeira da série, como diz o título, tem como atores principais um severo professor de Química e um aluno que cursava as séries iniciais de um curso de engenharia.

Omitiremos, por questão de ética, os nomes dos protagonistas, apesar do grande risco que corremos de a identidade do docente ser revelada para aqueles que conhecem a minha trajetória profissional. Não estamos preocupados com isso, na certeza de que a amizade que existe entre o citado professor e este bloguista nos autorizaria, até mesmo, a divulgar o seu nome.

Falamos que o Professor de Química era muito severo. Sua fama corria não só nos corredores da faculdade, como fora dela. Ele, com certeza, e ao contrário do que se possa pensar, prezava muito a imagem de “carrasco” que carregava.

Os alunos, por sua vez, já sabiam que para concluir o curso de engenharia naquela faculdade, seriam obrigados a sofrer nas mãos daquele professor. Outros, não menos exigentes existiam, mas aquele professor era, na visão dos alunos, muito especial.

Aos seus colegas docência o professor alardeava de que com ele o aluno não colava. Em parte ele tinha razão. O pavor era tal, que um atrevimento desses poderia custar alguns anos de dependência naquela disciplina. Portanto, por medo, a maioria dos alunos não se atrevia a colar com o referido mestre.

Mas como sempre acontece, uma das turmas foi premiada com a presença de um aluno com um dom de humor inusitado. E ele pregou uma peça no rigoroso professor de química, que passou a constar dos anais daquele curso.

Ocorreu numa das provas bimestrais. Naquele dia, como soe acontecer, a prova começou a ser realizada pelos alunos. Como de praxe, todos estavam sentados em suas respectivas carteiras e com os olhos fixos apenas para sua própria prova. O uso de qualquer material era expressamente vedado. Na carteira somente a folha de questões e de respostas e uma caneta. Todos os materiais já tinham sido deixados na frente da sala antes da prova começar.

Como de costume, o professor iniciava a prova de pé sobre a sua própria mesa de trabalho, onde a visão era quase total. Cada aluno que dirigia o seu olhar para ele sentia a sensação de que estava sendo observado pelo professor. Não raro era observar o rubor nas faces desses alunos.

Naquele dia, após descer da mesa, o citado professor começou a circular pela sala. Bem no fundo estava sentado o outro protagonista desta historia: aquele aluno com senso de humor apurado de que falamos.

Em dado momento, esse aluno começou de forma ostensiva abrir e fechar a sua mão esquerda, num gesto típico de que lá estava tendo o atrevimento de colar com aquele professor. Os colegas, ao seu lado, estavam todos apavorados. Mas ele não. Sua atitude continua foi agora deixando que o rubor da face dos alunos fosse transportado para a do professor.

Incontinenti a isso, o professor procurou circular até que conseguiu ficar postado estrategicamente bem atrás do aluno, a espera do momento certo para dar o seu bote. O aluno não se intimidou com a presença do professor e, mais uma vez, fez o gesto típico de abrir e fechar a sua mão. Neste momento, já visivelmente irritado com a petulância do aluno, o professor segurou firmemente a sua mão, naquele instante fechada, e pediu que ele ficasse em pé. Incontinente a isso o professor, em altos brados, ordenou que ele a abrisse as sua mãos. O aluno abriu e para surpresa de todos um som metálico pode ser ouvido: na mão do aluno, ao invés da cola imaginada não só pelo professor, como pelos demais alunos, estava uma medalha de Nossa Senhora Aparecida. O aluno, imediatamente, falou ao professor: - Mestre, o que seguro não é cola, mas a imagem da minha santa protetora.

Todos continuaram a prova, inclusive o aluno que a fazia com a proteção da sua santa. O Professor, embora sem graça, continuou com a sua natural postura na busca de alguma cola.

O fato, evidentemente, mereceu ampla divulgação nas rodas dos alunos e dos professores. O professor, pelo que se sabe, jamais mudou de postura e continua até hoje aterrorizando os seus alunos.
























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