6 de novembro de 2010

GERAÇÃO “NEM-NEM”

Recentemente uma reportagem no Fantástico revelou que os jovens hoje demonstram medo de sair das casas dos seus pais ao contrário de um passado recente em que eles tudo faziam para se libertar da dependência paterna ou materna.

O texto abaixo, publicado pelo jornal El País e reproduzido pelo  Estado de Minas/Correio Braziliense, em 1999, faz um retrato dessa realidade. Segue a reprodução na íntegra:

 (*) Estado de Minas/Correio Braziliense-28.06,09.




Ia passando por uma banca e vi na capa do jornal espanhol "El País" esta chamada: "Generación 'ni-ni' : ni trabaja, ni estudia".

Tive que parar para ler: "Geração nem-nem: nem trabalha nem estuda". Lá na Espanha, "ni-ni", aqui, e em português, "nem-nem". E claro, esse "nem-nem" soa até melhor em nossa língua, pois lembra "neném".

Estamos formando uma geração de "nenéns", de bebezões, que, como diz aquela expressão pitoresca: "não estão nem aí". Quer dizer, "não estão nem aí", mas estão na casa dos pais e avós mamando como bebês, mesmo depois dos 30 anos.

Alarmados com o resultado de uma pesquisa, sociólogos, psicólogos e administradores tentam analisar o fenômeno. Antigamente, dizem eles, os jovens tinham um "projeto". Um adulto se aproximava de um adolescente e indagava " o que você vai ser?". Hoje essa pergunta cai num vazio, numa situação embaraçosa. É como se fosse uma pergunta fora do lugar. E fazendo uma "mea culpa" os mais velhos reconhecem que o futuro está incerto para todos. Todos os dias os jornais dizem que o mundo já está acabando, que daqui há 50 anos bye-bye,.. será a terra devastada. Nós os mais velhos até dizemos: " inda bem que eu não vou estar aqui", e sentimos pena dos filhos e netos.

A situação na Espanha, de certa forma, é diferente da nossa. Lá a crise de empregos é compensada por um assistencialismo oferecido pelo governo. Assistencialismo que, por um lado, é bom e legítimo, mas por outro lado, conduz à inércia, ao conformismo, como se o governo tivesse sempre que botar a mamadeira na boca do cidadão.

Aqui, essa coisa de "bolsa" que começa com a família" e vai até a " bolsa ditadura" está levando a muitas distorções. Mas pelo menos o país ainda tem por onde se expandir e o mercado interno tem crescido e nos salvado de uma crise pior.

Leio nessa reportagem no "El País" que 54% dos espanhóis entre 18 e 34 anos não têm projetos nem ilusões. Só 40% dos universitários estudam o que querem. Leio e fico pasmo. Minha geração, formada durante o período desenvolvimentista de Juscelino saía da universidade já empregada. Isto era “natural". Ou seja, era como era a natureza naquele tempo. Assim como a "cadeia ecológica" não havia sido quebrada, não se falava em poluição, camada de ozônio, extinção dos ursos e corais, tudo na sociedade era natural, orgânico e consequente. Diploma era igual a emprego. E os sem diploma só não arranjavam emprego se não quisessem.

O diagnóstico diz que os rapazes e moças hoje não querem crescer, pois "as vantagens de ser jovem numa sociedade mais rica e tecnológica, mais democrática e tolerante, contrastam com as dificuldades crescentes para emancipar-se e desenvolver um projeto vital de futuro". Isto leva a existência interessada no “presenteismo" no "aqui e agora". Há, por outro lado, uma crise de identidade. Alterou-se o conceito de família, de classe social, a religião perdeu sua força e nas cidades há uma falta de "pertencimento", os indivíduos se sentem soltos, sem raízes, sem compromissos. Não estranha que as drogas tenham prosperado tanto. Não estranha também que tenha prosperado uma mídia que valoriza cada vez mais a leviandade, a pornografia e louva o sucesso fácil a partir da aparência e não do conteúdo.

Nunca foi fácil se jovem. Nem velho. Nem criança. Nunca foi fácil viver, a não ser para os irresponsáveis. Mas nossa época criou uma cultura própria que tem que ser analisada criticamente. Diante desta situação há duas possibilidades. A primeira é analisar o caos e procurar saídas. A segunda é ficar como aqueles passageiros e comandantes do Titanic, que ao invés de tomarem alguma atitude, continuaram alienados e festivos enquanto o navio navegava para a grande catástrofe.  
















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