17 de novembro de 2010

O Tiririca é o meu assunto preferido

Os meus leitores devem imaginar que tenho procuração para defender o humorísta Francisco Everardo Oliveira Silva, conhecido por Tiririca. Isso mesmo, aquele humorista que obteve a maior votação no Brasil dentre os postulantes a uma das vagas na Câmara Federal. Não tenho, mas sou obrigado a novamente escrever sobre ele pelas provocações que recebo do ilustre promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes, que ainda insiste no seu desejo de ver cassado o registro da candidatura daquele hoje Deputado Federal.

A última investida do Promotor – noticiada ontem pela mídia - foi a de protocolizar um recurso pedindo a anulação da audiência na qual Tiririca foi submetido a um teste no TRE-SP e foi considerado aprovado, após demonstrar que sabia ler e escrever, segundo declarações do próprio presidente daquele Tribunal Eleitoral.

Alega, agora, o digno Promotor, que Tiririca é analfabeto funcional, e que possui um parecer técnico de fonoaudióloga do Imesc (Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo), classificando Tiririca como analfabeto funcional segundo definição da Unesco.

Podemos até concordar com o citado Promotor de que todos os postulantes de cargos eletivos deveriam demonstrar de que não são analfabetos funcionais, ou seja, que possuam habilidades e competências de ler e produzir um texto, já que serão responsáveis pela elaboração das leis em nosso país. Todavia, não podemos esquecer que a nossa Constituição Federal não faz exigência alguma em relação ao nível de escolaridade, declarando, apenas, que são inelegíveis os analfabetos. (1)

Portanto, se o nosso texto constitucional considera inelegível tão somente os analfabetos de fato, nada falando o que induza à interpretação de que o analfabeto funcional também não poderá ser candidato a cargo eletivo, o recurso do Promotor não faz qualquer sentido.

O conceito de analfabetismo funcional é bastante controverso, e em muitos casos relacionado com o tempo de permanência de uma pessoa nos bancos escolares. Preferimos, no entanto, ficar com a definição que nos é dada pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (UNESCO):

“Pessoa incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, dificultando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Apesar de saber escrever seu próprio nome, assim como ler e escrever frases simples e efetuar cálculos básicos, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras e colocar no papel por meio de escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas".
Assim, se prevalecesse a tese agora defendida pelo Promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes, muitos dos candidatos eleitos, inclusive aqueles portadores de diplomas, até mesmo de nível superior, correm o risco de serem também cassados, pois segundo os últimos dados do INAF - Indicador de Alfabetismo Funcional – Instituto Paulo Monteiro, “75% dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais. Isso mesmo: 3 (três) em cada 4 (quatro) brasileiros. Destes, 8% são analfabetos absolutos, 30% leem mais compreendem muito pouco e 37% entendem alguma coisa, mas são incapazes de interpretar e relacionar informações. O estudo indicou que apenas 25% dos brasileiros com mais de 15 anos têm pleno domínio das habilidades de leitura e de escrita”. (2)

Por outro lado, muitos estudiosos já admitem que a leitura convencional deixou de ser a única forma de se adquirir conhecimento, pois com o avanço da mídia visual, todas as pessoas passaram a ser capazes de saber sobre tudo e de até mesmo opinar sobre tudo.

Apesar de ainda ser reticente com tal afirmação, a verdade é que Tiririca não pode – como parece estar sendo – ser usado como bode expiatório para a decadente educação em nosso país.

Deixem que o Tiririca assuma e o tempo mostrará a todos aqueles que nele votaram – mais de 1.3 milhões –  se acertaram ou erraram.

Da minha parte, que não votei nele, já começo a discordar da afirmação que ele fez ao longo da sua campanha de que “Pior não fica”, pois pela Lei de Murphy “Se algo pode dar errado, dará" ou ainda "Se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior estrago possível".

Não sei se convenci os meus leitores, mas estejam certo de que utilizei a não tão famosa a Lei de Truman:

“Se não pode convencê-los, confunda-os”.

Fonte:

1. Constituição Federal brasileira, Artigo 14 § 4º: “são inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos”.

2.http://www.webartigos.com/articles/51049/1/Analfabetismo-funcional/pagina1.html

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