25 de dezembro de 2010

Os envelopes de Natal, uma tradição que jamais morreu..





Os anos passam e, a cada ano, sempre no dia 25 de dezembro, me vem à mente uma cena inesquecível que marcou os nossos natais de antigamente.

Após o almoço, com toda a família reunida, meu Pai se posicionava estrategicamente para fazer a distribuição dos seus famosos envelopes. Sempre na cor branca, com os nomes escritos a mão, cada um daqueles envelopes continha uma parte do seu 13o salário. O valor da gratificação natalina que ele recebia, como funcionário público aposentado, era integralmente rateado em partes iguais, e em valores proporcionais para filhos, netos, afilhados e até bisnetos.

Para todos era um momento especial. Não pelo valor recebido, mas pelo gesto que virou uma tradição natalina tão diferente das praticadas em outros lares.

Em outro canto qualquer, minha Mãe resmungava. Dizia que aquilo não tinha justificativa e o dinheiro deveria ser guardado para necessidades futuras. Enquanto meu Pai vivia o presente, minha Mãe só pensava no amanhã.

Meu Pai faleceu. Logo no primeiro Natal sem a presença dele, após o almoço, não é que minha Mãe, para surpresa de todos – que antes condenava a distribuição daquele dinheiro-, apareceu com os mesmos envelopes e fez a distribuição de toda a importância que ela havia recebido, como pensionista do meu Pai.

Indaguei a ela o motivo de sua decisão. Ela simplesmente me respondeu: - Não vou deixar que aquilo que fazia bem ao seu Pai deixe de ser praticado.

E assim ela fez até morrer.

Os envelopes deixaram de ser distribuídos com a morte de ambos, mas na minha mente eles continuam a me ser entregues a cada ano em forma de proteção que recebo do meu Pai e da minha Mãe.

Saudade, quanta saudade daquele tempo.





3 comentários:

  1. Papai, também tenho muitas saudades deles e desses momentos inesquecíveis. Guardo até hoje o último envelope que recebi! Natal como aqueles acho que jamais teremos iguais. Esperavamos ansiosamente a data chegar, nos preparavamos e contavamos os minutos.... nos divertíamos muito. Era um Natal encantado e cheio de fantasias. O importante é que ficarão para sempre em nossas memórias e em nossos corações. Tenho certeza que lá de cima eles nos protegem e nos mandam bons fluidos para o próximo ano. Quero que minhas filhas sintam a magia do Natal como eu sentia quando era pequenina, quem sabe conseguirei passar para elas tudo o que vcs nos ensinaram. Feliz Natal!!!!! Daniela

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  3. Caro irmão.
    No dia de natal, quando estavamos reunidos no almoço e o Felipe leu em seu celular este texto para todos, a emoção tocou forte em mim e em todos os que ali estavam presentes.
    No mesmo dia mais a noitinha, entrei aqui e li com mais calma, a emoção foi maior ainda.
    Relembrar as atitudes de amor e de cuidados que nossos pais tinham com a gente sempre nos traz muita alegria e um grande orgulho de termos tido pais como eles.(além de um nózinho na garganta de saudades)
    Como vc, tenho a certeza que eles continuam a zelar por nós da mesma forma amorosa e dedicada como sempre fizeram enquanto estiveram por aqui.
    Deus abençõe sempre os nossos "anjos".

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