22 de março de 2011

OBESIDADE MENTAL





Algumas de nossas postagens seguem sugestões recebidas de nossos leitores. A que preparamos hoje nos foi sugerida pela Professora Terezinha Aparecida Franco Honório, nossa querida irmã, e uma das mais assíduas leitoras do nosso blog.

Ainda bem que a família prestigia (rsrsr), como dizem os jovens de hoje.


Trata-se de um texto cuja a autoria é atribuída a Andrew Oitke (professor da Universidade Haward). Todavia, nas pesquisas que já foram realizadas, não foram encontradas qualquer referência ao mesmo. Para alguns trata-se de um pseudônimo, e que o verdadeiro autor é o próprio Prof. João Cesar das Neves, catedrático da Universidade Católica de Lisboa, que o publicou no Diário de Notícias, em 22.03.2004.


Por ser um autor muito contestado no meio mediático e social, o Prof. João Cesar das Neves encontrou numa referência fictícia estrangeira, um virtual catedrático americano, a forma de dar maior credibilidade ao que escreve.
Apesar das dúvidas quanto a autoria do texto, resolvemos publicá-lo pela sua relevância e oportunidade.


Obesidade Mental


”O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. «Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.» Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna fast food intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.» O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado Os abutres, afirma: «O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.» O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.» Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. «O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto.As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. «Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.”


Nosso Comentário:


O texto reflete bem o estágio da nossa atual sociedade. Os pilares que outrora a sustentavam – família, religião e educação – estão corroídos, colocando-a em risco.

Segundo Jean-Paul Sartre (2):


“O homem está condenado a ser livre”.


Resta, todavia, saber qual será o preço que iremos pagar por essa total falta de limites dos valores morais e éticos dos dias atuais?

Notas


(1)- Wikipédia - João Luís César das Neves (Lisboa, 1957) é um economista e professor português. Professor catedrático da Universidade Católica Portuguesa, aí preside ao Conselho Científico da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais, onde se doutorou e licenciou em Economia. Entre 1991 e 1995 foi assessor económico do primeiro-ministro, em 1990 foi assessor do ministro das Finanças e, de 1990 a 1991 e de 1995 a 1997, técnico do Banco de Portugal. Autor de mais de trinta livros e de múltiplos artigos científicos, é também colaborador na imprensa, assinando a coluna Não há almoços grátis, no Diário de Notícias.


(2)- Jean-Paul Sartre (Paris, 21 de Junho de 1905 — Paris, 15 de Abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido representante do existencialismo – Wikipédia livre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos seu comentário. Críticas serão sempre aceitas, desde que observado os padrões da ética e o correto uso da nossa língua portuguesa.

Já chegamos ao fundo do poço?

        A crise moral, política e financeira que se abateu sobre o nosso país não nos dá a certeza de que já chegamos ao fundo do poço....