26 de abril de 2011

O jornalista e o assassino - Ética no jornalismo





De vez em quando este blog aborda assuntos ligados ao jornalismo, especialmente voltados ao ensino dessa profissão que, infelizmente, não desperta hoje tanto interesse dos jovens estudantes. Isso se deve pelo fato de o nosso Supremo Tribunal Federal (STF), ter desobrigado o diploma superior para o exercício profissional. Acreditamos que em breve tal quadro se reverta, e um dos projetos em tramitação no Congresso Nacional venha mudar tal situação, ao nosso ver absurda.

Confessamos que o jornalismo passou a despertar em nós um interesse maior quando realizamos nosso mestrado na Pontifícia Universidade São Paulo (PUC/SP). Na época fomos convencidos pelo nosso orientador, Dr. Celso Ribeiro Bastos, grande constitucionalista, a escrever uma dissertação sobre o sigilo da fonte na comunicação jornalística. Para conseguirmos realizar uma análise jurídica do tema, fomos obrigados a estudar o jornalismo, e até realizar pesquisas na Universidade de Navarra, Pamplona, Espanha, reconhecidamente a que oferece um dos melhores cursos da Europa.

Ainda motivados por Celso Bastos, nossa dissertação se transformou em um livro, que ganhou o título “A proteção do sigilo da fonte na Comunicação Jornalística”, editado em 1999, por Celso Bastos Editores. Escrito quando ainda vigorava a Lei de Imprensa, nosso livro precisa ser atualizado.

Como há identidade entre vários assuntos tratados em nossa obra, queremos sugerir aos leitores que se interessam pelo assunto, a leitura do livro “O jornalista e o assassino”, Companhia das Letras, que o blog de Mauricio Stycer (1) recomenda, hoje vendido por R$21,00, ou seja a um preço acessível. Vejam a análise de Stycer:

Como o texto de ontem sobre a cobertura da chacina de Realengo levantou na área de comentários do blog ótimas questões sobre o trabalho da imprensa, aproveito para recomendar aos mais jovens, que talvez ainda não conheçam, o livro “O Jornalista e o Assassino” (Companhia das Letras, 172 págs., R$ 21).

Publicado originalmente em 1990, ganhou uma edição brasileira três anos depois e acaba de sair em formato de bolso e preço acessível a estudantes de jornalismo, para quem a leitura é obrigatória.

O texto de Janet Malcolm, repórter da revista “New Yorker”, descreve o embate, como objetivamente informa o título da obra, entre um jornalista, Joe McGinniss, e um homem condenado pelo assassinato da mulher e das duas filhas, o médico Jeffrey MacDonald.

De comum acordo, McGinniss escreveu um livro sobre MacDonald, depois de inúmeras entrevistas com ele, durante o julgamento e na prisão. Conviveram durante quatro anos. O médico nunca admitiu culpa nos crimes e o jornalista jamais deu a entender que pensava diferentemente.

Ao ser publicado o livro de McGinniss, MacDonald sentiu-se profundamente traído e processou o jornalista. Foi a notícia deste processo, movido por um homem condenado à prisão perpétua, contra um repórter, que despertou o interesse de Janet Malcolm.

Em sua defesa, McGinniss evocou o dever profissional de dizer a verdade, mas não conseguiu se livrar da suspeita de que enganou MacDonald para chegar ao resultado que pretendia.

“O Jornalista e o Assassino” discute questões e dilemas fundamentais no exercício do jornalismo, ligados à relação de confiança que se estabelece com a fonte. A primeira frase do livro se tornou mítica, pela sua crueza: “Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável”.

A nova edição brasileira traz um posfácio de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da “Folha”, no qual ele apresenta Janet Malcolm, contextualiza “O Jornalista e o Assassino” dentro da sua obra e, de passagem, arrisca-se numa interessante análise sobre a relação entre narrativas de não-ficção e psicoterapia, um tema que a própria autora aborda em sua obra.
 
Qual é o limite do jornalismo? Entre o interesse público e o direito dos personagens à sua própria versão dos fatos, como diz Frias Filho, qual é a solução? Janet Malcolm não apresenta uma resposta simples para o que ela chama de “impasse moral”, mas obriga qualquer profissional a refletir um pouco sobre o seu ofício, o que já é um bom começo.

Em tempo: Mais informações sobre o livro podem ser lidas na resenha de Daniel Benevides publicada no UOL Entretenimento, intitulada Assassinato é ponto de partida para lição de ética no jornalismo.

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