27 de junho de 2011

Projeto Pedagógico para os Cursos Noturnos


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O eminente jurista brasileiro Rui Barbosa deixou dentre os seus legados, uma definição para o princípio da igualdade constante no texto da nossa Constituição. Convidado para paraninfar uma turma da Faculdade do Largo de São Francisco, Rui não pode comparecer. Todavia, escreveu o seu famoso discurso, denominado “Oração aos Moços”, onde a definição de igualdade pode ser encontrada.

Assinalava Rui:


"A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real".

Tomemos, portanto, emprestados os ensinamentos de Rui Barbosa para justificar a nossa preocupação com a grande maioria dos Projetos Pedagógicos Institucionais implantados no ensino superior, especialmente nas instituições de ensino privado, nas quais o grande contigente de alunos estudam a noite após uma exaustiva jornada de trabalho.

Não se encontra, na maioria desses projetos, a preocupação de buscar um método de ensino que procure contemplar, a esse grande contingente de alunos, as mesmas oportunidades que são oferecidas àqueles que têm o privilégio de estudar durante o dia e, geralmente, não trabalham.

Tais projetos são construídos para atender o aluno que se pretende ter, e não àqueles que efetivamente as instituições conseguem absorver, grande parte deles oriundo do ensino público e desprovido de formação básica que lhe permita dar sequência lógica aos seus estudos universitários.

Em primeiro lugar, queremos destacar que o prazo de integralização da carga horária dos cursos noturnos deveria ser maior do que aquele estabelecido para o período diurno. Todavia, apesar da liberdade que as instituições têm para assim o fazer, a concorrência hoje existente entre elas não permite que isso aconteça. A solução é óbvia: o Ministério da Educação (MEC), deveria editar norma obrigando que os cursos noturnos tivessem sua duração aumentada.

Como isso não ocorre, e não há previsão de que seja alterado, urge que as instituições de ensino venham construir um projeto pedagógico que enfrente essa realidade, estabelecendo estratégias para minimizar as dificuldades que os alunos do período noturno enfrentam ao longo dos seus cursos.

Uma das primeiras preocupações que se deve levar em conta na elaboração desse projeto pedagógico, é com relação à busca de um método de ensino apropriado para o perfil do aluno que estuda no período noturno: adulto e não o jovem.

Levando em conta tal constatação, sugerimos aos nossos leitores a leitura do artigo Andragogia: A Aprendizagem nos Adultos, do Prof. Roberto de Albuquerque Cavalcanti, do qual trazemos uma pequena síntese:

Linderman, E.C, já em 1926, pesquisando as melhores formas de educar adultos para a "American Association for Adult Education" percebeu algumas impropriedades nos métodos utilizados e escreveu:

"Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem inversa: assuntos e professores são os pontos de partida, e os alunos são secundários. ... O aluno é solicitado a se ajustar a um currículo pré-estabelecido. ... Grande parte do aprendizado consiste na transferência passiva para o estudante da experiência e conhecimento de outrem ".Mais adiante oferece soluções quando afirma que "nós aprendemos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto aprendiz". Lança assim as bases para o aprendizado centrado no estudante, e do aprendizado tipo "aprender fazendo". Infelizmente sua percepção ficou esquecida durante muito tempo. A partir de 1970 , Malcom Knowles trouxe a tona as idéias plantadas por Linderman. Publicou várias obras, entre elas "The Adult Learner - A Neglected Species" (1973), introduzindo e definindo o termo Andragogia - A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender. Daí em diante, muitos educadores passaram a se dedicar ao tema, surgindo ampla literatura sobre o assunto.

Entre nós, Paulo Freire, em “Pedagogia do Oprimido”, já afirmava: “Ninguém educa ninguém, nem ninguém aprende sozinho, nós homens (mulheres) aprendemos através do mundo”. Na sua obra “Pedagogia da Autonomia”, Freire diz: “ Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.

Por seu turno, Eduard Lindeman, em “The Meaning of Adult Education" (1926), identificou, pelo menos, cinco pressupostos-chave para a educação de adultos e que mais tarde transformaram-se em suporte de pesquisas. Hoje eles fazem parte dos fundamentos da moderna teoria de aprendizagem de adulto:

1. Adultos são motivados a aprender à medida em que experimentam que suas necessidades e interesses serão satisfeitos. Por isto estes são os pontos mais apropriados para se iniciar a organização das atividades de aprendizagem do adulto.

2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por isto as unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são as situações de vida e não disciplinas.

3. A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; por isto, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências.

4. Adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por isto, o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los.

5. As diferenças individuais entre pessoas cresce com a idade; por isto, a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.

Aos leitores interessados no assunto sugerimos mais um artigo sobre o tema, que foi escrito por Rodrigo Goeks, com o seguinte título: " Educação de Adultos - Uma abordagem Andragógica", link abaixo.

Antes de encerrar, queremos deixar uma indagação aos gestores e professores de cursos noturnos:

Vocês já ouviram falar em andragogia?

Fontes:


•Freire, Paulo (1987) – Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. Rio de Janeiro.

• Freire, Paulo (1996) – Pedagogia da Autonomia. Paz e Terra. Rio de Janeiro.


•Malcolm Knowles Shepherd (24 agosto de 1913, 27 de novembro de 1997) foi um americano Adult Educator , famoso para a adoção da teoria da Andragogia , inicialmente um termo cunhado pelo alemão professor Alexander Kapp . Knowles é creditado como sendo uma influência fundamental no desenvolvimento do Humanista Teoria da Aprendizagem e da utilização de contratos de aprendiz construídos ou planos para orientar experiências de aprendizagem.


•Rodrigo Goeks 
 http://www.andragogia.com.br/

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