Crédito Imagem - carplace.virgula.uol.com.br
Estamos
obcecados com "o melhor".
Não
sei quando foi que começou essa mania, mas
hoje só queremos saber do "melhor".
Tem
que ser o melhor computador, o melhor carro,
o
melhor emprego, a melhor dieta, a melhor
operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.
Bom
não basta.
O
ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os
outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o
melhor".
Isso
até que outro "melhor" apareça -
é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.
Novas
marcas surgem a todo instante.
Novas
possibilidades também. E o que era melhor,
de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O
que acontece, quando só queremos o melhor,
é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno
desassossego.
Não
desfrutamos do que temos ou conquistamos,
porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.
Cada
comercial na TV nos convence de que merecemos
ter mais do que temos.
Cada
artigo que lemos nos faz imaginar que os
outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor,
ganhando melhores salários.
Aí a
gente não relaxa, porque tem que correr atrás,
de preferência com o melhor tênis.
Não
que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos.
Mas
o menos, às vezes, é mais do que suficiente.
Se
não dirijo a 140, preciso realmente de
um carro com tanta potência?
Se
gosto do que faço no meu trabalho, tenho que
subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor
cargo da empresa?
E
aquela TV de não sei quantas polegadas
que acabou com o espaço do meu quarto?
O
restaurante onde sinto saudades da comida de
casa
e vou porque tem o "melhor chef"?
Aquele
xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes
mais caro?
O
cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que
ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?
Tenho
pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos .
A
casa que é pequena, mas nos acolhe.
O
emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.
A TV
que está velha, mas nunca deu defeito.
O
homem que tem defeitos (como nós), mas nos
faz mais felizes do que os homens "perfeitos".
As
férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a chance de estar perto de
quem amo...
O
rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas
das histórias que me constituem.
O
corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e
sente prazer.
Será
que a gente precisa mesmo de mais do que isso?
Ou
será que isso já é o melhor e, na busca de tudo que nos dizem ou imaginamos ser
"melhor", a gente nem percebeu?
Fonte:
Texto de Leila Ferreira, jornalista mineira com mestrado em Letras e doutora em Comunicação, em Londres.
Apesar disso, optou por viver feliz uma vidinha mais simples, em Belo Horizonte...
Nota:
Recebi por e-mail de Mariza Bandimarti.
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