Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de
domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de
Porto, dizer a minha neta:
- Querida, venha cá.
Feche
a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas
pra te contar.
E assim, dizer apontando o indicador para o alto:
- O nome disso não é conselho, isso se chama colaboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas
conclusões.
E
agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a pele mole e
os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte.
Por
isso, vou colocar mais ou menos assim:
É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração.
Para
onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
Satisfaça seus desejos.
Esse
é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer,
mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai
depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas procure viajar para conhecer lugares,
culturas e pessoas diferentes.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que
ele seja o carteiro.
Não
corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito...
Tenha uma vida rica de vida! Viva romances de cinema, contos de fada
e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável.
Porque
sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam
também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor.
Não
faça por segurança, carinho ou status.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém
parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de
aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém
diferente de você.
Mas
para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da
visão.
É o
seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus
instrumentos de criação.
Leia. Pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o
fim, se não por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais.
Eles
te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que
puderam, e sempre farão.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa
vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo
cinza.
Era só isso minha querida.
Agora
é a sua vez.
Por
favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?
Isso vale para
todos nós, pais, filhos, netos, tias e amigas.
Crédito:
Não sei quem é o autor. Recebi por e-mail de Reinaldo Moreto, São Paulo, Capital.
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