29 de junho de 2011

A VINGANÇA 'SARAMALIGNA"


Charge de Gerson Kauer- www.espacovital.com.br

Vejam uma história de vingança que envolve operadores de Direito e uma servidora de um cartório.

O preço da velha Mercedes


Dona Mercedes, é uma senhora já bem passada nos seus 60 e tantos de idade, notoriamente conhecida por um habitual mau humor. Vez por outra ela ia a um cirurgião plástico para dar uma enganada facial, por meio de uma sessão de botox.


Dona Mercedes trabalhava no cartório de uma vara cível de grande comarca, onde sua principal atividade era cuidar do numerário da serventia. Chegara a esse posto em função de seus anos de casa e da não adaptação à era da informática.


Nos seus 30 anos de trabalho de fiel obediência aos preceitos do argentário escrivão, ela colecionara antepatias entre advogados, ódios entre estagiários e inimizades entre os próprios colegas de serventia que achavam que o convívio com ela era, justamente, o peso maior da rotina das atividades cartorárias.


Certo dia urdiu-se a vingança. Cinco reais de um funcionário, dez de um advogado, dois reais de uma estagiária etc. e assim reuniu-se o preço para bacar a veiculação de um anúncio classificado em jornal dominical para a sacanagem.


O texto era chamativo, curto e objetivo e sua veiculação foi encomendada diretamente num desses pontos de coleta de anúncios onde - sabia-se - ninguém pedia a identidade do anunciante; os cuidados básicos tinham que ser apenas dois. Primeiro, levar o texto já digitado; segundo, pagar em dinheiro.


No domingo, a turma do cartório curtiu o caderno de motos e carros, com a veiculação encomendada: "Vendo uma Mercedes velha. Faço bom preço. Aceito propostas. Negócio diretamente com a proprietária, no fone ...."
Claro que o anúncio continha a indicação do número que deveria ser chamado e cujo telefone tilintava diretamente na mesa de Dona Mercedes.


Na segunda-feira, os telefonemas se sucederam. E, os diálogos, foram mais ou menos assim:


É daí que tem uma Mercedes velha pra vender?


- Filho da p...


E outro:


- Qual o preço da Mercedes velha anunciada?


- Pergunta prá tua mãe!...


E também:


- Faço-lhe uma proposta: para levar a Mercedes velha, dou em troca um lote na zona nova de Tramandaí.


- Fica com o terreno pra que a tua mulher tenha um lugar onde ela possa ...


E ainda:


- Li que é velha, mas pergunto: a Mercedes está em razoável estado?


- Igual ao estado das tuas guampas, seu corno!


* * * *


O escrivão percebeu a zoeira e sentiu pelos ares "inocentes" dos servidores que a pantomima era coisa encomendava. Foi ao diretor do Foro, com quem ficou resolvido que o telefone, por alguns dias, seria retirado do gancho e que uma sindicância seria aberta.


A segunda determinação não chegou a ser cumprida. Já com o tempo de aposentadoria implementado, Dona Mercedes encaminhou no mesmo dia o pedido de jubilamento, logo atendido.


A seus poucos amigos, ao sair, ela teria confidenciado que aceitava tudo.

Menos ser chamada de "a velha Mercedes"...

Fonte
http://www.espacovital.com.br/


Nota deste blog


Ao tempo que exerci a advocacia "trombei" com algumas "Mercedes" na minhas idas aos cartórios dos fóruns. Ao ler a história acima, sinto-me vingado pelos dissabores que passei.


Infelizmente a disposição contida no Art. 133 da nossa Constituição: "O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei", não tem a eficácia esperada.

Nota Explicativa:

No texto vamos encontrar duas expressões de uso quase que exclusivo dos gaúchos. Vejam o significado:

guampas = chifre, no texto usado como "corno"

e

jubilamento = aposentadoria.

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