21 de novembro de 2011

A Fábula do Desenvolvimento Sustentável


Crédito Imagem - derrubandobarreiras.blogspot.com




Era uma vez, numa terra distante, uma linda princesa que tinha os cabelos pretos como o ébano, os lábios vermelhos cor de sangue, e a pele branca como a neve. Seu nome? Branca de Neve. Esta, após ser expulsa de casa pela madrasta, que lhe encomendou a morte a um caçador, teve a vida poupada por este homem, que não executou o ato por pena da bela.

Em renovada tentativa de pôr um fim à existência da jovem, a madrasta teve a idéia de lhe oferecer uma maçã envenenada. Esta, linda, em tons de vermelho vivo, com aspecto de seda, certamente cumpriria o seu papel na vida de Branca de Neve, não fosse o súbito, ou talvez casual, aparecimento do seu já reservado príncipe encantado.

Lembrei-me desse conto, cuja publicação da versão mais conhecida é dos ilustres irmãos Grimm, e decidi reconstruí-lo, atualizá-lo.

Segundo o sociólogo alemão Ulrich Beck, hoje se vive numa sociedade de risco. Este está presente nos âmbitos social, político e econômico. Vive-se uma era de inseguranças, instabilidades e imprevisibilidades, isso em razão do aumento da complexidade nas relações humanas, e do atual modelo de produção/consumo que, infelizmente, revelou-se perverso ao próprio homem e ao seu meio.

Estamos cada vez mais imersos num universo que persegue o desenvolvimento a qualquer preço. Contudo, o meio ambiente está nos cobrando a conta, e os nossos cartões de crédito são inúteis nesse caso.

Agimos como filhos irresponsáveis de uma geração que não nos preparou, talvez por falta de condições, para lidar com essa situação. Talvez tenhamos sido conduzidos ou arrebanhados num processo de aculturação, acometidos de uma profunda cegueira que nos impossibilita enxergar o que está a um palmo dos nossos sentidos.

Digo isso, por que pensei na maçã envenenada? A da bruxa malvada da Branca de Neve? Aquela dos contos de fadas? Não.

Pensei na maçã envenenada presente em nossas mesas cotidianamente. Busquei informação sobre o assunto, e constatei que em nosso país não há um controle adequado com relação ao que ingerimos. Hoje, sabe-se que, muitas vezes, nos são disponibilizados alimentos com níveis de resíduos de agrotóxicos muito acima do que é permitido pelos órgãos oficiais de saúde. Além disso, somos o terceiro país no ranking mundial em importação agrotóxicos, havendo pesquisas que ligam essa informação ao fato de também sermos o terceiro país em mortalidade por câncer.

A propósito, escolhi a maçã, porque esta, além de ser uma das frutas que apresenta maior volume de resíduo de veneno, ela ainda é imersa num banho de fungicida, passa por um secador e recebe uma borrifada de cera para que o veneno adira à fruta. Após isso, ela é acondicionada e transportada, tudo antes de ser, deliciosamente, consumida.

Assim, descobri que somos “tratados” com doses homeopáticas de venenos, administrados diariamente, e sob o aspecto de uma alimentação salutar, semelhante àquela dos nossos avós, ou daqueles que nos tempos de outrora cuidavam da terra como se fosse sua própria casa. Sábios, estes já colocavam em prática algo que hoje doutores e cientistas recomendam como um modo de vida de qualidade e, sobretudo, digno.

Mas não é isso que queremos. Não, não. Estamos presos aos contos de fadas. Amamo-los. Queremos a maçã que a mídia, ops!, a madrasta nos vende. Gostamos da maçã vermelha como o sangue, lisa como a seda, pouco importando o seu veneno. Afinal, trata-se de um processo coletivo: se todos comem, não deve fazer mal! Um veneno a mais ou a menos. A poluição já tomou conta das águas e do ar. É assim mesmo.

O conto de fadas nos faz mais felizes, nos torna menos responsáveis, e assim nos sentimos isentos de qualquer culpa, afinal, já nascemos em meio a esse processo, não é mesmo?

Em vista disso, creio em algo bem simples que pode mudar o leme desse navio em que embarcamos, e penso que devemos começar a estabelecer um novo movimento, onde se tenha condições de melhor avaliar a realidade, nossos atos e conseqüências, ou seja: ter uma vida mais responsável e, conseqüentemente, contribuir para um desenvolvimento sustentável, num ato de amor ao próximo e de amor à vida.

Qual o antídoto para o veneno? A informação. Esta é o elo ou o caminho que nos levará muito longe, e esse novo cenário certamente será mais seguro, e menos fantasioso do que o atual mundo que construímos.

Possivelmente, os irmãos Grimm não imaginaram ver o seu conto de fadas se repetir na vida real. Só temo pelo fato de não aparecer, casuisticamente, um príncipe encantado para nos salvar.



Fonte:
O presente texto nos foi encaminhado pela autora, Patricia Bianchi, Doutora em Direito Ambiental e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina.


Um comentário:

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Já chegamos ao fundo do poço?

        A crise moral, política e financeira que se abateu sobre o nosso país não nos dá a certeza de que já chegamos ao fundo do poço....