Crédito Imagem - derrubandobarreiras.blogspot.com
Era uma vez, numa terra distante,
uma linda princesa que tinha os cabelos pretos como o ébano, os lábios
vermelhos cor de sangue, e a pele branca como a neve. Seu nome? Branca de Neve.
Esta, após ser expulsa de casa pela madrasta, que lhe encomendou a morte a um
caçador, teve a vida poupada por este homem, que não executou o ato por pena da
bela.
Em renovada tentativa de pôr um fim
à existência da jovem, a madrasta teve a idéia de lhe oferecer uma maçã
envenenada. Esta, linda, em tons de vermelho vivo, com aspecto de seda,
certamente cumpriria o seu papel na vida de Branca de Neve, não fosse o súbito,
ou talvez casual, aparecimento do seu já reservado príncipe encantado.
Lembrei-me desse conto, cuja
publicação da versão mais conhecida é dos ilustres irmãos Grimm, e decidi
reconstruí-lo, atualizá-lo.
Segundo o sociólogo alemão Ulrich
Beck, hoje se vive numa sociedade de risco. Este está presente nos âmbitos
social, político e econômico. Vive-se uma era de inseguranças, instabilidades e
imprevisibilidades, isso em razão do aumento da complexidade nas relações
humanas, e do atual modelo de produção/consumo que, infelizmente, revelou-se
perverso ao próprio homem e ao seu meio.
Estamos cada vez mais imersos num
universo que persegue o desenvolvimento a qualquer preço. Contudo, o meio
ambiente está nos cobrando a conta, e os nossos cartões de crédito são inúteis
nesse caso.
Agimos como filhos irresponsáveis de
uma geração que não nos preparou, talvez por falta de condições, para lidar com
essa situação. Talvez tenhamos sido conduzidos ou arrebanhados num processo de
aculturação, acometidos de uma profunda cegueira que nos impossibilita enxergar
o que está a um palmo dos nossos sentidos.
Digo isso, por que pensei na maçã
envenenada? A da bruxa malvada da Branca de Neve? Aquela dos contos de fadas?
Não.
Pensei na maçã envenenada presente
em nossas mesas cotidianamente. Busquei informação sobre o assunto, e constatei
que em nosso país não há um controle adequado com relação ao que ingerimos.
Hoje, sabe-se que, muitas vezes, nos são disponibilizados alimentos com níveis
de resíduos de agrotóxicos muito acima do que é permitido pelos órgãos oficiais
de saúde. Além disso, somos o terceiro país no ranking mundial em importação agrotóxicos, havendo pesquisas que
ligam essa informação ao fato de também sermos o terceiro país em mortalidade
por câncer.
A propósito, escolhi a maçã, porque
esta, além de ser uma das frutas que apresenta maior volume de resíduo de
veneno, ela ainda é imersa num banho de fungicida, passa por um secador e
recebe uma borrifada de cera para que o veneno adira à fruta. Após isso, ela é
acondicionada e transportada, tudo antes de ser, deliciosamente, consumida.
Assim, descobri que somos “tratados”
com doses homeopáticas de venenos, administrados diariamente, e sob o aspecto
de uma alimentação salutar, semelhante àquela dos nossos avós, ou daqueles que
nos tempos de outrora cuidavam da terra como se fosse sua própria casa. Sábios,
estes já colocavam em prática algo que hoje doutores e cientistas recomendam
como um modo de vida de qualidade e, sobretudo, digno.
Mas não é isso que queremos. Não,
não. Estamos presos aos contos de fadas. Amamo-los. Queremos a maçã que a
mídia, ops!, a madrasta nos vende. Gostamos da maçã vermelha como o sangue,
lisa como a seda, pouco importando o seu veneno. Afinal, trata-se de um
processo coletivo: se todos comem, não deve fazer mal! Um veneno a mais ou a
menos. A poluição já tomou conta das águas e do ar. É assim mesmo.
O conto de fadas nos faz mais
felizes, nos torna menos responsáveis, e assim nos sentimos isentos de qualquer
culpa, afinal, já nascemos em meio a esse processo, não é mesmo?
Em vista disso, creio em algo bem
simples que pode mudar o leme desse navio em que embarcamos, e penso que
devemos começar a estabelecer um novo movimento, onde se tenha condições de
melhor avaliar a realidade, nossos atos e conseqüências, ou seja: ter uma vida
mais responsável e, conseqüentemente, contribuir para um desenvolvimento
sustentável, num ato de amor ao próximo e de amor à vida.
Qual o antídoto para o veneno? A
informação. Esta é o elo ou o caminho que nos levará muito longe, e esse novo
cenário certamente será mais seguro, e menos fantasioso do que o atual mundo
que construímos.
Possivelmente, os irmãos Grimm não
imaginaram ver o seu conto de fadas se repetir na vida real. Só temo pelo fato
de não aparecer, casuisticamente, um príncipe encantado para nos salvar.
Fonte:
O presente texto nos foi encaminhado pela autora, Patricia Bianchi,
Doutora em Direito Ambiental e Mestre em Relações Internacionais pela
Universidade Federal de Santa Catarina.
Recebi por e-mail:
ResponderExcluirObrigada pela publicação!
Abraços, e até breve!
Patrícia