5 de janeiro de 2014

Em terra de cegos quem tem um olho não é rei




 



O cenário político brasileiro demonstra claramente que o dito popular ”Na terra de cegos quem tem um olho é rei”, é uma grande falácia.

E para melhor explicar isso, trago uma postagem (fonte citada) que dará ao leitor a exata compreensão desse fenômeno.

No conto “Em Terra de Cegos…” (edição portuguesa da Padrões Culturais Editora, de 2008), H. G. Wells, descreve A Terra dos Cegos: um vale remoto e quase inacessível em que todas as pessoas são cegas há 14 gerações. Não sabem o que é ver (não têm da visão nem conhecimento por contacto nem conhecimento proposicional) e por isso não têm consciência de que lhes falta uma capacidade que outras pessoas possuem; ou seja: não reconhecem ter um problema. São cegas mas não sabem que são cegas. Estão também convencidas que o vale é o mundo inteiro. Quando chega um forasteiro, que lhes fala do mundo exterior e lhes tenta explicar o que é a visão, não o acolhem nada bem e ele descobre que, afinal, em terra de cegos quem tem um olho não é rei.

As semelhanças com a “alegoria da caverna” de Platão são óbvias. Mas – sem querer contar demais e sem roubar ao leitor o prazer da surpresa – também há diferenças. Uma delas é o amor – não à verdade mas sim a uma linda mulher.

E, contrariamente a Platão, que afirma que os prisioneiros descritos na “alegoria da caverna” são semelhantes aos seres humanos, H. G. Wells não sugere interpretações metafísicas e epistemológicas para a sua história. Mas isso não impede os leitores do seu conto de formular algumas perguntas.

Se a situação descrita por Wells ocorresse realmente (com uma comunidade inteira ou com algumas pessoas, mantidas por todas as outras na ignorância acerca da sua cegueira), seria possível essas pessoas detectarem a sua falta de visão?

Será possível que algo equivalente esteja a suceder à espécie humana, ou seja, que nos falte sem nós sabermos uma qualquer capacidade sensorial? Sabe-se que alguns animais têm capacidades sensoriais que nós não temos (como o sonar dos morcegos ou a sensibilidade ao campo magnético da Terra de algumas tartarugas e pássaros), mas as informações por elas fornecidas não parecem ser radicalmente diferentes das informações que recolhemos através dos nossos sentidos (e dos aparelhos científicos que os prolongam). Será possível, contudo, que nos falte uma capacidade sensorial que forneça informações radicalmente diferentes daquelas que temos através dos nossos sentidos (como é o caso da informação visual por comparação com a olfactiva ou a táctil, por exemplo)? Tão diferentes que a realidade seja, afinal, algo bastante diverso daquilo que percepcionamos…

Em suma: e se fossemos uma espécie de cegos que não sabem que são cegos?

O conto de Wells pode levar a colocar questões desse género, mas para encontrar respostas e para discutir as ideias envolvidas é preciso recorrer à filosofia.

Eis um excerto do conto (página 31 da edição referida):

“Nunez procurou descrever o mundo do qual [viera] (…), as montanhas e outras maravilhas da Natureza, àqueles indivíduos que viviam nas trevas da Terra dos Cegos. Contudo, para sua admiração, não compreendiam uma única sílaba. Durante catorze gerações, aquela gente permanecera cega e totalmente isolada do mundo exterior e, gradualmente, as noções de outrora haviam-se perdido com o desenrolar dos anos. A imaginação de outros tempos fora substituída pela que a atmosfera de trevas lhe ditava, auxiliada pela sensibilidade dos ouvidos e das pontas dos dedos. Nunez apercebeu-se de que mais tentativas para lhes fazer compreender a verdade resultariam absolutamente infrutíferas”.
Como no conto de Wells, creio que serão infrutíferas qualquer tentativa de fazer com que o brasileiro volte a enxergar, e exija que mudanças no cenário político venham acontecer.
Nota:
Por Carlos Pires 


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